terça-feira, 29 de janeiro de 2013


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O biscoito da obra de Elisa Queiroz se transformou numa coleção de lenços, criada pela estilista capixaba Luisa Mendes

Nas galerias e nos cabides

Roupas com estampas inspiradas em obras de arte invadem as vitrines das lojas, na estação mais quente do ano



Moda e arte sempre foram louvadas juntas por aí. O que pouca gente sabe é que existe um estilo que se vale dessa tão celebrada parceria. Trata-se do artsy, tendência que não apenas dominou as passarelas da estação como também se apresenta nas vitrines da cidade. As estampas são as protagonistas desse estilo, que tem transformado roupas e acessórios em telas. No caso, as padronagens se valem de reproduções de obras artísticas ou de versões dessas. As impressões, no entanto, não precisam trazer, necessariamente, uma obra sobre tecido. Muitas vezes são apenas desenhos que lembram pinturas, sem ter um artista assinando por trás.    
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Mas engana-se quem pensa que essa tendência vem de agora. Quem não se lembra do famoso tubinho Mondrian de Yves Saint Laurent?  O vestido se tornou um ícone da moda ao reproduzir as linhas verticais e horizontais e cores puras traçadas pelo artista holandês numa roupa. Saint Laurent, aliás, não ficou só por aí. Outros artistas também o inspiraram em suas criações, como Pablo Picasso, Georges Braque, Andy Warhol, Velázquez e Delacroix.

Na passarela do São Paulo Fashion Week do verão 2013, o artsy despontou como uma proposta renovadora para a mesmice reinante. Entre as marcas que se enveredaram por esse caminho está a Triton, que trouxe o artista plástico Lucas Simões para conceituar sua coleção. Nela, o trabalho de colagens do artista foram transpostas nas estampas, ricas em misturas de texturas. Já elementos quase esculturais surgem na modelagem ao evidenciar o forro da roupa, que surge para ser visto em abas viradas para fora e quase sempre com tecidos diferentes.

Num olhar mais naif, a Forum se valeu das ilustrações de Filipe Jardim para colorir sua coleção de reestreia na passarela. Nos tecidos pensados como telas, foram expostos ícones arquitetônicos nacionais, como os prédios coloridos da Cidade Baixa, em Salvador.  Já as formas e o colorido das obras de dois artistas latino-americanos serviram de inspiração para o verão 2013 da estilista Fernanda Yamamoto. Em uma viagem ao México, ela se deparou com algumas construções do arquiteto local Luís Barragan, conhecido por suas casas coloridas. Sua outra referência veio de trabalhos específicos do artista plástico brasileiro Hélio Oiticica: “Metaesquemas”, “Maquette para relevo” e de instalações como “Magic Square”.

A estilista compilou o denominador comum das duas referências em uma coleção calcada por formas geométricas e muitas cores. Ela dedicou um projeto específico para cada peça. Os comprimentos curtos predominaram em silhuetas ora justas, ora oversized, bem como a mistura de texturas, uma marca registrada da estilista.

A estilista capixaba Luisa Mendes não só se identifica com o processo criativo de Yamamoto como traz de berço essa simpatia com o artsy, já que cresceu em meio a um universo rodeado de obras, debates e discursos artísticos por influência de sua mãe, a pesquisadora de arte e ex-secretária de cultura Neusa Mendes.

Como não poderia deixar de ser, a arte sempre foi um fio condutor para o seu trabalho. Inclusive, contemplando também artistas locais, como as fotografias de Orlando da Rosa Farya e as criações de Elisa Queiroz, ambos, aliás, integrantes do projeto da estilista Arte para Vestir.

“Não tenho a pretensão de falar que minhas roupas são arte. Apenas me beneficio das informações desse universo para agregar valor às minhas criações.

No jeito de usar

Uma outra vertente do artsy está no styling. E, por mais pejorativo que seja atualmente o termo, os hipster são incentivadores do estilo. Isso porque não se fazem de rogados na hora de evidenciar looks multicoloridos, com pegada pop, com exaltação à cultura de consumo profetizada por Andy Warhol.  

O próprio termo hipster traz isso embutido, já que esse é também usado para designar a classe média urbana, marcada pela música independente, o saudosismo e o culto ao não recorrente – vide a obsessão por antecipar tendências.  

Daí o estilo hipster acabar usufruindo um pouco da leitura do artsy, que tem como característica peculiar uma mistureba de estilos, pegando emprestado de tudo um pouco: dos hippies a cultura hip hop, passando pelo camp - que se vale do exagero, como bem fez as musas Carmem Miranda e Lady Gaga.

Assim, nessa proposta que se farta de inúmeras referências, o artsy pode fazer do corpo uma tela em branco a ser colorida, sem amarras. A estilista Edy Lopes gosta de colocar suas ideias de moda dentro desse conceito. Ela, que vem da cultura clubber, diz que sua linguagem visual caminhou para o estilo fragmentado atual, que traz inúmeras referências num só look.

“Gosto de pensar a moda num conceito mais artístico mesmo, em propostas mais ousadas, que não se limitam a tendências ou ao dito usável. Daí, o visual ganha essa cara mais artsy, em que o colorido ganha evidência em meio a essa vitamina de estilos,” considera. 

Dentro desse liquidificador, Edy ressalta o estilo camp de Lady Gaga e Katy Perry, que trazem, de certa forma, um surrealismo para a moda, como óculos em formatos de boca, sutiãs em forma de doces e por aí vai. “Mais do que a pretensão de se posicionar como arte, a moda pode ser também divertida. Gosto dessa despretensão de brincar com elementos não convencionais.”  E como já cantava a também nada discreta Cindy Lauper: “Girls just wanna have fun.” 
Fonte: A Gazeta

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