Gorda sim, por que não?
Por Keka Demétrio


Diante dessa avalanche de notícias, blog,
sites, concursos e afins, posso dizer que a verdade é uma só: a maioria
das mulheres estão afirmando que não se importam em estarem gordas, mas
poucas são as que realmente se aceitam. Muitas ainda estão no caminho
da autoaceitação e outras não se aceitam e nunca vão se aceitar. Fato. E
mesmo se aceitando, ser ou estar gordo não é fácil para ninguém. Buscar
a felicidade, e para isso ter que ir contra o que a maioria pensa ou
determina, sempre foi motivo de sofrimento, porém, de crescimento e
libertação.
A maioria das pessoas olha para quem está
acima do peso com desdém, como se fossemos menos, como se capacidade
fosse medida pela quantidade de quilos que possuímos. E isso arrasa
qualquer pessoa. Embora os casos de obesidade possam ter diversos
fatores, como genética, distúrbios físicos e emocionais, somos sempre
vistos como quem está sempre cometendo o pecado da gula, desleixados e
preguiçosos. Quer um exemplo claro? Quando numa festa ou restaurante uma
mulher magra se levanta para se servir, ninguém nota o que ela colocou
no prato, mas se for uma mulher gorda todo mundo fica reparando e diz:
olha lá, por isto está gorda. E assim acontece em diversas outras áreas,
somos observados sempre e na maioria das vezes para sermos criticados.
Ou seja, de uma forma ou de outra incomodamos e as pessoas nos observam.
Acho tudo muito lindo quando vejo
milhares de mulheres declarando se amarem. Tenho inúmeras leitoras, que
me enchem de orgulho e alegria, porque muitas delas passaram a se cuidar
através da leitura de alguns textos meus, onde, na verdade, eu estava
querendo era chacoalhar a mim mesma. Por isso eu sei o quanto isso
custa, quanta coragem é preciso para tirar essas palavras bonitas da
boca e transformá-las em atitudes, em caminhos, em descobertas e
estabelecer um novo modo de vida, enfrentando maledicência, estupidez de
gente preconceituosa por alienação, porque não tem opinião própria e
não sabe nem o que está dizendo.
Sabe aquele discurso que vivemos ouvindo
sobre não precisar que ninguém nos aceite? Pois é, é mentira e nunca
concordei com isso. O que sempre propus foi que antes de cobrarmos
aceitação dos outros devemos nos aceitar primeiro. Poxa, vivemos em
sociedade, e queremos sim que as pessoas nos aceitem, nos admirem,
gostem da gente, e seria hipocrisia dizer que não se importa com isso. E
sinto te informar que ninguém vai fazer isso antes que você mesmo se
aceite, se admire e se goste.
Gosto não se discute e deve-se respeitar.
Mas, só para citar como exemplo, alguns homens preferem estar ao lado
de uma mulher magra e burra do que ao lado de uma mulher inteligente,
descolada, culta, educada e gorda. E isso serve também para mulheres que
preferem homens sarados e acéfalos, a estarem ao lado de homens
inteligentes, que as valorizam e gordos. Sinto pena de gente assim, e
quem for do sexo masculino e não quiser se aproximar de mim por causa do
meu peso, por favor, não se aproxime mesmo, quero avisar que está me
fazendo um grande favor, poupando-me e se poupando, porque minha
preferência é por homens de verdade. E para aquelas que possuem
‘namorados’ que sentem vergonha de assumirem o ‘compromisso’, de as
apresentarem para os amigos, digo para se valorizarem mais, porque se
não, sempre terão como ‘companheiro’ alguém que pensa ser homem, mas que
não passa de moleque.
Felicidade alheia incomoda, e se vier de
uma gorda incomoda muito mais. Eu sei, eu sinto. No começo, quando essa
onda de autoaceitação começou a crescer, percebia um monte de gente,
diga-se mulheres, e alguns homens fúteis, me olhando de canto de olho
como se eu fosse a maior das ridículas. Nestas horas, ao invés de
marejar os olhos como acontecia anos atrás, eu dava um belo sorriso e
fingia não notar, porque arma nenhuma é mais poderosa do que o desprezo,
o ato de ignorar. Desta época para cá, comecei a fortalecer minhas
idéias e percepções a respeito de mim e só eu sei quantas vezes dormi
abraçada comigo mesma, como se a parte forte da Angélica quisesse
acalentar e dar forças para a parte ainda doente e enfraquecida pelos
anos de autoestima abaixo de zero.
Passei a focar no que eu queria ser, no
que eu queria sentir, trabalhei meus pontos fracos e fortaleci o que
sempre me evidenciou: minha alegria, meu sorriso e a minha
sensibilidade. Pratico a terapia do Espelho, da Música e a Choroterapia,
todas criadas por mim como forma de enfrentar a minhas fragilidades.
Desenvolvi um trabalho mental de autoaceitação e amor próprio que
excluiu da minha vida a vergonha de ser quem eu sempre fui: uma mulher
gorda que tem todo o direito de ser e estar feliz, de buscar meu
caminho, de lutar por meus sonhos e de não aceitar ser discriminada pelo
tamanho do meu corpo. E de excluir da minha vida qualquer um que queira
me fazer sentir menos do que sou.
Sou uma mulher acima do peso e sou feliz.
Gosto de mim, aliás, me amo, exalo sensualidade, carisma, alegria de
viver e não são poucas as pessoas que chegam perto de mim para dizer o
quanto me admiram, e olha que tem muita magrinha corpinho de modelo
fazendo isso. E homossexuais, também. Talvez porque eles sintam na pele o
que é ser desrespeitado, humilhado e possam ver em mim uma mulher que
tem tudo para ficar jogada dentro de casa vestida com uma roupa surrada,
subir no salto, me jogar em meus vestidos, me maquiar, cuidar de mim e
principalmente do meu sorriso. Encarando a vida sem medo do que os
outros vão dizer, porque falar eles falam mesmo e minha energia é
poderosa e abençoada demais para ser gasta me preocupando com esse tipo
de coisa, prefiro investi-la no meu crescimento e aprimoramento
intelectual e emocional.
Hoje, percebo que o que incomoda mais as
pessoas não é o meu corpo roliço, mas a leveza da minha alma, o
desprendimento que tenho em relação ao que prega o preconceito, e o amor
próprio que faço questão de ressaltar. O incomodo que estas pessoas
sentem é pela felicidade que tenho, e que elas, inconscientemente talvez
nunca vão possuir, porque perdem tempo e energia demais em invejar o
outro ao invés de ir atrás do que lhes é de direito, o direito de serem
felizes. Não tenho um pingo de vergonha do que sou e de como estou, e
por isso eu sempre digo: Sou gorda sim, e por que não?
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